quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

VIAGEM MISTERIOSA



O meu irmão mais velho, João Guido (Guidinho) após o falecimento de papai, foi trabalhar em Minas Gerais, bem longe de nossa cidade Natal. Era o xodó da mamãe e tal fato era compreensível: além de ser o primogênito, ele nasceu exatamente no dia em que ela completava 23 anos. Ele foi viver com a família de um tio amantíssimo mas, mesmo assim, a separação foi doída para os dois. Ele nos visitava uma vez por ano, nas férias. Além da distância, as passagens pesavam muito no orçamento.
Depois de alguns anos distante, ele chegou para as férias muito tristonho. Mamãe percebeu. Aperta daqui, aperta dali, ela conseguiu fazer com que ele falasse. Estava desanimado porque não via futuro para ele, na empresa em que estava. Trabalhador dedicado, até então não conseguira nenhuma melhoria na carreira. Estava pensando em tentar a sorte em outro lugar. Mamãe ouviu muito quieta, os argumentos do filho e sugeriu que pensasse bem, antes de tomar a decisão. E ele voltou para Minas; isso foi em dezembro.
Em janeiro, mamãe arranjou um jeito de ir passar uns dias em Niterói. Todos estranharam, pois ela não era de deixar a casa por qualquer motivo. Só algo muito importante a levaria a fazer uma viagem. Arrumou uma pequena mala e partiu. Ninguém sabia que, em sua bagagem, ela levava o telefone e o endereço da presidência da empresa, que ficava localizada no Rio de Janeiro. Conseguiu um pequeno encontro com o presidente e abriu seu coração, como quem fala a um grande amigo. Falou da perda do marido; do filho que foi para longe; de como ela o havia criado. Pediu que ele investigasse que tipo de funcionário ele era e da vontade que ele estava de sair da empresa por não sentir-se reconhecido. Com a promessa do presidente de que iria conferir a história, ela voltou a casa.
Não sei quanto tempo demorou para chegar uma carta de Guidinho, narrando que havia sido promovido e que continuaria em Minas Gerais. Ele estava muito feliz, porque já estava namorando uma jovem com a qual, anos mais tarde veio a se casar.
Só então mamãe contou a sua peripécia, que foi confirmada por um motorista da empresa, amigo da nossa família.
Mamãe era assim: tinha medo de temporal, acendia palha benta e tapava espelhos ao menor sinal de relâmpago. Mas se transformava em uma guerreira na defesa dos filhos. Até desafiou um Presidente da República, em certa ocasião... Mas isso é outra história. Para outro dia.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

OLÁ AMIGOS!



Acabei de postar no eientretenimentoinformacao.blogspot.com uma grande lição passada por uma jovem de 11 anos. Neste momento em que nosso planeta pede socorro, vale a pena conferir.
Em breve, neste espaço, voltarei com outro ensinamento de minha mãe Niette. Até lá!
Imagem: myspace.com

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

QUERIDOS LEITORES

Obrigada por visitarem meu pequeno blog, onde relembro lições que minha mãe deixou para seus filhos e netos. Sei que estou em dívida com vocês por não responder às suas mensagens, mas a verdade é que eu sou muito limitada no computador; nem sei postar os textos, dependo sempre que alguém o faça por mim. Mas fico muito feliz com a visita de todos e me orgulho de ter até ‘seguidores’. Aproveito para anunciar que estou escrevendo em um blog de variedades e gostaria de convidá-los a participar dele também, inclusive como seguidores. Trata-se do www.eientretenimentoinformacao.blogspot.com.
O responsável é meu filho, Rafael Sardenberg, neto mais novo de minha mãe.
Um beijo

CIÚMES DA KODAK

Ao saber do fechamento do último laboratório da Kodachrome, que funcionava desde 1935, em Kansas, nos Estados Unidos, bateu uma melancolia! Lembrei de mamãe e do ciúme que nutria por sua máquina fotográfica, que ela tratava como “minha Kodak”.
Antes da máquina digital, fotografia era um “hobby” para poucos. Adquirir o equipamento e revelar o trabalho saia muito caro. Mesmo assim, meu pai presenteou a mamãe com uma Kodak, para que fotografasse seus filhos.
Na adolescência eu não gostava quando mamãe mostrava, às amigas que vinham visitá-la, o resultado de sua “veia” fotográfica, no passado. Eu achava um horror as minhas fotos de quando era bebê: numa delas eu aparecia gorducha, só de calcinha, tomando banho no rio Paraíba que, por muito tempo foi o quintal de nossa casa. Outra, no carnaval, com dez meses de idade, vestida de coelhinho, no colo de uma de suas primas, passeando na praça da cidade. As imagens, amareladas pelo tempo, eram o orgulho de minha mãe; não sei se pelas fotos em si, ou se por relembrar o presente recebido de papai, que nos deixou tão prematuramente.
Hoje, já adulta, volta e meia, também reviro as caixas onde guardo minhas fotos tiradas na juventude, também em preto e branco, e as que revelei de meu filho, já em filme colorido. São verdadeiras viagens no tempo, são registros de uma vida, reveladas no papel. Parece clichê, mas hoje digo que entendo o sentimento de Niette.
Hoje a fotografia faz parte do dia a dia das pessoas; até na compra de um aparelho celular você leva uma máquina fotográfica. Com grande facilidade, registram-se fatos importantes e amenidades. Mas não sei se o sentimento, ao ver as fotos são os mesmos dos registrados com a boa e velha Kodak de rolo, não sei...
Imagem: ryerson.com

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

VESTIDO NA VITRINE



Sempre gostei de olhar vitrines. Apesar de não ser consumista, gosto de ver coisas bonitas, mesmo que não possa adquiri-las. Esse fato não me causa nenhuma frustração.
Num desses dias de feriado enforcado, passeando em um dos mais elegantes shoppings da cidade, na vitrine de uma das lojas estava exposto um vestido de crochê, que chamou minha atenção: era de linha tipo barbante e o ponto formava fileiras de leques. Sem mangas, corpo seco, cintura marcada por um cinto vermelho, estreitinho, como dita a moda e saia rodada. Era lindo (e caríssimo) o vestido!
Fiquei admirando a obra e pensei em minha mãe.
Dona Niette era danada! Acreditem ou não, eu tive um vestido de crochê de barbante e ponto em leque, feito por ela. Era tubinho com decote redondo e tinha a bainha rodeada por flores, também de crochê.
Mamãe era muito criativa e fazia para suas filhas roupas e acessórios inusitados. Eu me lembro, muito bem, de uma saia, feita de saco de estopa, bordada com fios de corda, que ela mesma tingiu. O saco, depois de lavado e alvejado, ficou com uma cor linda; quase um areia escuro. Artesanato da melhor qualidade! Lembro, também, da bolsa azul que usei no baile de minha formatura do ginásio, para acompanhar o sapato, da mesma cor enviado de Niterói, por tia Ritta. Ela foi feita de cetim e coberta com as mesmas flores de renda e pérolas que adornavam o vestido. Certa vez mamãe confeccionou, para minha irmã Paulina um cordão, com várias voltas, de contas feitas com papel de revista. O colorido do colar chamava a atenção sobre o vestido escuro. Ela já pensava em reciclar, quando ainda não havia preocupação com essa prática.
Outra ocasião, ela fez um curso de pintura em tecido e logo as filhas desfilaram com roupas pintadas. O sucesso foi tanto que, como das outras vezes, aconteceram encomendas. Em pouco tempo, as mais belas blusas e batas das jovens que passeavam na praça da cidade, eram de sua autoria. Os desenhos criados por ela, não se repetiam.
Niette era estilista nata. E, com o seu bom gosto e disposição vestia suas filhas de maneira graciosa e elegante.
É claro que também tivemos roupas compradas prontas ou feitas por costureiras, mas elas não deixaram, em mim, tantas lembranças quanto as que foram feitas, com carinho, pelas mãos de mamãe. Ah! Essas não esquecerei, jamais!
Foto: mdemulher.abril.com.br

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PROFESSOR TEM SEMPRE RAZÃO



Tenho boas lembranças de meu tempo de estudante. Estudei em escolas públicas do interior, tive bons professores e sempre procurei corresponder sendo assídua e aplicada.
Uma única vez, no ginásio, senti-me injustiçada, mas não manifestei meu sentimento ao professor.
Em casa, queixei-me à mamãe, dizendo que não capricharia mais nos trabalhos daquela disciplina porque o professor não reconhecia o meu esforço. Como era a primeira vez que levava para ela um problema da escola, cheguei a pensar que mamãe "compraria a briga" de sua filha caçula.
Depois de ver meu trabalho, para minha decepção, ela respondeu bem séria: "O professor não deu uma nota maior, porque ele sabe que você tem condições de fazer melhor... E quem quer ser alguém na vida, precisa estudar..."
E foi falando... falando... (mamãe, quando começava era difícil parar) uma série de coisas que depois de certo tempo, já meio arrependida da queixa, nem ouvia mais.
Até que ela me saiu com essa: "Se você ficar em prova de segunda época, vai ter que estudar nas férias e não vai viajar". Foi um susto. Eu, que adorava ir para Niterói, tratei de melhorar minha nota para passar de ano.
Depois de adulta, também já militando no magistério, o próprio professor, conversando comigo, contou que mamãe o procurou, naquela ocasião, para saber o que estava acontecendo.
Nos dias de hoje, se os pais percebessem a importância do professor na vida de seus filhos, agiriam como agiu Dona Niette: comigo, deu razão ao professor, mostrando que em sala de aula ele era a autoridade e devia ser respeitado; junto ao professor, mostrou ser uma mãe zelosa procurando saber como eu estava na escola e no que ela poderia contribuir para melhorar meu rendimento.
Mais uma lição importante para minha vida que procurei passar ao meu filho.
Foto: peixegordonews.blogspot.com

sexta-feira, 4 de junho de 2010

UMA VÓ PACIENTE




Eu, Rafael, sou o neto mais novo de Niette. Nasci e fui criado em Niterói, e quando fui a São Fidélis, terra de minha mãe, pela primeira vez, com cerca de um ano e meio, era época da festa da cidade. Meus pais saíram para as barraquinhas e me deixaram, dormindo, com minha vó. Porém, eu acordei durante o tempo que eles ainda estavam na rua e senti falta deles. Então, minha vó me colocou na janela e a toda pessoa que passava, eu perguntava: "Você conhece minha mãe? Fala com ela que eu acordei"? Em um certo momento, apareceu Pedro, genro de minha vó, casado com minha tia Paulina, que disse conhecer minha mãe e garantiu que diria a ela que eu estava acordado e procurando por ela.
A lição contida nessa história é o fato de Niette ter tido toda paciência comigo, ao invés de brigar e reclamar com aquela criança, pelo fato de ela estar sentindo falta dos pais.
Foto: maeleoa.bloguedobebe.com